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Vou publicar um livro

Vou levar-te até 2011/2012. O momento em que consegui entrar no curso de escrita criativa do El Corte Inglês, do escritor José Couto Nogueira, autor dos livros "Pesquisa Sentimental" e "Apontamentos de Escrita Criativa", "A Namorada Infiel, o Amigo Incompetente", "Táxi" e "Vista da Praia". Li "Pesquisa Sentimental", naquela altura, e gostei. 

Estamos a falar numa altura em que não existiam redes sociais, como o Instagram e o Tik Tok. Os blogues eram reis. O Facebook tinha sido lançado em 2004. 

Lembro-me que saía do emprego às 17:00, precisava de chegar ao El Corte Inglês pelas 19:00 e regressava a casa pelas 23:00. Foram os primeiros passos no mundo que mais me fascinava, dos escritores e dos seus livros. Também eram os primeiros passos na condução no meio de Lisboa. Enfrentei tudo, para ouvir falar de livros e estar com pessoas que gostavam de escrever e ler. Foi onde conheci duas meninas, a Andreia e a Teresa. Sei que a Teresa publicou um livro de poesia, mas também nunca mais soube delas. 

Nessa altura, tive a oportunidade de conhecer escritores como Pedro Paixão e Patrícia Reis. Descobri naquela sala o ego gigante dos escritores e a forma como falavam uns dos outros. 

Tínhamos exercícios de escrita para entregar ao professor. Nunca os fiz. Por sentir que não tinha qualquer talento ou capacidade de escrita, como os meus colegas. Desvalorizei e aproveitei sugar o máximo das partilhas de todos os que passavam naquela sala. Entendi, anos mais tarde, que o mercado literário é estreito, talento ou golpe de sorte. E que podemos fazer a nossa trajetória se tivermos muita força de vontade. Hoje as coisas estão completamente diferentes. 

Escrevi muito no blog Mau Feitio e diverti-me com as partilhas diárias. Sempre amei ler e o meu maior sonho era escrever um livro. E escrevia todos os dias. Por causa dos blogues, viajei sozinha pela primeira vez e escrevi um livro a quatro mãos, com uma amiga do Porto. Uma história singela que enviámos para um concurso literário. Guardo o exemplar e gostava muito de um dia, contar aquela história, de uma outra forma. Escrevi outros textos que dava aos amigos para ler. Inventava histórias, novelas. Não passava tempo sem ler ou escrever. 

Após um texto no meu blog, Patrícia Reis convidou-me para escrever um texto sobre Liberdade para a revista Egoísta. O meu primeiro texto pago. Fiz workshops de escrita criativa em Lisboa com outras bloggers. Fiz vários cursos de escrita online. Li imenso ao longo da minha vida. 

Em 2012, gravei o meu primeiro video, para o meu canal, onde divulgo a literatura portuguesa. Em 2016, criei o meu primeiro projeto ligado à literatura portuguesa, Ler os Nossos. Tens uma playlist com diversos vídeos com opiniões e recomendações só de autores portugueses. 

Os blogues foram deixados para trás. O Instagram estava a ficar bastante popular. Ainda alguém lê blogues? Eu continuo a ler e subscrevo várias newsletters. 

Fui escrevendo bastante, mas deixei o meu sonho dentro de algumas gavetas. Se calhar, devia continuar a ler e a deixar a escrita para quem sabe escrever. Vi várias pessoas a publicarem os seus livros. Li vários livros publicados por novos autores portugueses. Alguns, maravilhosos. Percebi que há mercado e leitores para todos os gostos e que eu podia trabalhar a minha escrita. Não precisava de ter medo. Fui em frente. 

Tive coragem para publicar a minha primeira novela em versão eBook em 2020. Queria ter opiniões sobre a minha escrita. O feedback foi muito positivo. Fiquei bastante animada para continuar o meu sonho. 

O bichinho da publicação voltou quando li “Leme”, de Madalena Sá Fernandes. Vi na sua escrita algo que incentivou a escrever e a publicar o meu livro. Tinha uma história dentro de mim que não se calava. Outro obstáculo que eu meti na minha cabeça, foi a minha idade. Já era tarde para publicar os meus livros? Claro que não. Encontrei novos autores mais velhos do que eu. 

Escrevi o meu livro, com toda a minha alma. 

Conheci a autopublicação como opção. Falei com inúmeras autoras no Brasil, aprendi imenso. Fui entender o mercado, as vantagens e desvantagens. Descobri que posso ter ajuda de bons profissionais na área, não preciso de depender apenas de mim. Investi toda a minha energia, suor e lágrimas. 

Conclui todas as etapas com entusiasmo, neste momento tenho o meu primeiro romance numa gráfica. É tudo uma aprendizagem. Só precisamos de começar e arriscar. Existem leitores para todos os gostos. E eu acredito muito no meu livro. 

Acho que pode trazer uma mensagem de esperança e alento. Pode ser colo e abraço. Não existem respostas para todas as perguntas que temos dentro de nós. E precisamos continuar a enfrentar a vida, sem elas. 

Abri a pré-venda esta semana, brevemente o meu romance estará nas vossas mãos.

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Cláudia Benedy

É autora de romances. Viciada em bibliotecas e livrarias. Nasceu em 1985, em Vila Franca de Xira. Vive em Alenquer, mãe de quatro filhos. 

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