Storytime: O computador dele denunciou-o

Bem, este assunto é delicado. Eu estava a começar a trabalhar num escritório e tinha alguns projetos na internet Para além disso, estudava à noite para aumentar as minhas habilidades. Sempre gostei de estar envolvida em várias atividades.

O nosso namoro parecia correr lindamente. Ele era tão querido. Viajava imenso, mas nunca deixava uma mensagem por responder. Mesmo que demorasse mais de um dia. A maluca era eu que não podia estar sempre à espera de uma resposta. Tinha de aprender a esperar. Impaciente. Ele era uma pessoa muito ocupada.

Era aquele tipo de rapaz que não me queria, mas também não queria que eu fosse feliz ao lado seja de quem for. Sempre que acabava comigo, umas duas a três vezes por mês, voltava dois dias depois, arrependido, e eu aceitava. Até um dia, claro. Um dia, conto-te como a cidade do Porto fez milagres na minha vida e nunca mais aceitei migalhas.

Inesperadamente o meu computador morreu para a vida. Sinais do universo, só não vê quem não quer. Um aparelho indispensável na minha vida profissional e de estudante. Para salvar-me da situação, pedi emprestado o computador do meu namorado enquanto o meu estava a ser reparado. Ele ficou extremamente desconfortável, ele começou a adiar o empréstimo. Na verdade, ele ficou desesperado, sabia muito bem o o que eu ia encontrar. Parvalhão. Parvalhona.

Quando o computador finalmente apareceu na minha casa, quase tirado a ferros, vinha com uma conta criada para mim e a conta dele bloqueada com uma senha. Óbvio. Privacidade, não teria acesso a nada. E eu ignorante, claro, o que é dele é dele. Mas afinal, o que tinha a esconder? A minha conta tinha tantas restrições que nem o Word conseguia abrir. Aliás, nada.

Liguei-lhe a pedir a senha da conta dele para poder fazer o meu trabalho. Já com uma pulga atrás da orelha. Alguma coisa era. No inicio da conversa não me queria dar, mas com a minha insistência, e choro, porque precisava de entregar o trabalho naquele dia e ainda nem tinha começado, acabou por ceder.

Bastei digitar a senha e uma bela foto, de uma mulher com longos cabelos negros, de costas, sentada numa cama e uma tatuagem no fundo das costas. Eu fiquei sem reação, chocada.

Um vento bateu no ecrã do computador e abriu uma janela de chat do Facebook. A foto, a conversa pessoal, protegida por uma senha, estava diante dos meus olhos. Voltei a ligar-lhe para o questionar. Quem me mandou coscuvilhar? Quem me mandou ser curiosa? Quieta, tinha ganho mais.

Para ele, eu era a culpada, não tinha nada de pedir a senha. E na minha cabeça, passei a sentir-me culpada. Nesse dia, enquanto ele não chegou para vir buscar o seu computador, eu descobri traições por cada viagem.

Não fiz o trabalho, terminei o namoro e demorei vários meses para aceitar que ele era um homem mentiroso. Sabes quando começas a juntar peças de puzzle e tudo faz sentido? Ou nada faz sentido?

A paixão foi cegueira na minha vida. Eu justificava todas as suas ações e perdoava. Eu continua a ser enganada e muitas vezes não via. Continuo sem entender quem namora com uma pessoa e quer muitas.

Amiga, tem tanto para te contar é um quadro que eu criei para partilhar as minhas histórias como se fosse vossa amiga. Aquelas histórias que ficaram na minha memória e me moldaram. I´m just a girl.