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Como Realizar o Sonho de Escrever e Publicar: A Minha Jornada e Dicas para Iniciantes

Quando tinha oito anos, pedi à minha mãe uma máquina de escrever. Inicialmente copiava os livros que tinha, brincava às bibliotecas e livrarias. Mais tarde comecei a criar as primeiras histórias.

Na escola, quando conheci o meu professor de português, senti que podia explorar a minha imaginação a outro nível. Ele entusiasmou-se com uma composição com tema livre onde eu inseria dinossauros e um herói. Lembro-me das suas palavras com apreço. Tens um forte potencial para criar histórias, desenvolve a tua imaginação e escreve. Ok, não foram bem estas as palavras, mas a intenção foi a mesma.

Lembro-me que ele era um professor que gostava do que fazia. Falava da leitura como ferramenta importante, tinha alma de poeta. Fazia inúmeros projetos ligados à leitura e formas de expressão. Lembro-me de um concurso de poesia, onde os alunos puderam estar em cima das cadeiras a proclamar poemas. Lembro-me das peças de teatro.

Inclusive, escrevi uma peça dedicada aos oceanos que foi interpretada pelos meus colegas. Subimos ao palco, representámos para outra escola. No final, recebi um ramo enorme de flores e um agradecimento do meu professor. Emociono-me bastante quando penso nestes momentos de ingenuidade. Os professores viam com olhos de ver. "Se puderes ver, repara". O quanto ele reparou a minha infância não está escrito. O que ele viu em mim o que mais ninguém viu na fase mais perturbadora da minha vida, é impagável. Este querido professor faleceu, mas deixou um legado nos seus alunos. A sua paixão pelas palavras. Em mim, pelo menos.

Quando abriu a biblioteca do Carregado, passava muitas horas na companhia dos livros. E escrevia. Conheci os Diários de Adrian Mole e quis fazer algo do género. Dei voz a um adolescente chamado André. Lembro-me de imprimir o livro e entregar à bibliotecária Sónia. Ela leu-o com muito carinho e incentivou-me a continuar. Sempre temos alguém que nos diz para avançar.

Tive diários e inúmeros cadernos. Juntei dinheiro para ir à papelaria e comprar mais 20 cadernos diferentes para explorar histórias diferentes.

Criei o meu primeiro blogue e dediquei-me diariamente a partilhar apontamentos da minha vida, mente e leituras. Nessa altura, fui castrada pelos comentários negativos. Os primeiros episódios de ódio foram interiorizados lentamente. a ingenuidade desaparecia e as dúvidas aumentavam sobre a minha forma de escrever. Quanto mais nos aproximamos da fase adulta, mais dúvidas colecionamos.

Nessa altura, tive a sorte de participar no meu primeiro workshop de escrita criativa no El Corte Inglês. Acabada de tirar a carta, aventurei-me no final do dia para Lisboa. Tive o meu primeiro contacto com escritores e conheci as minhas primeiras amigas aspirantes a escritoras. Foi uma experiência enriquecedora.

Mais tarde, recebi um convite por parte da escritora Patrícia Reis para publicar na revista Egoísta sobre liberdade. Falei sobre a prisão interna por ser alguém que eu vivia. Foi o primeiro dinheiro que recebi com a escrita. Ganhei 200 euros por um texto meu. Guardo a revista com muito carinho. Uma edição espetacular, numa capa vermelha. É algo que guardo com orgulho, tinha 26 anos.

Escrevi um livro e participei num concurso literário. O livro foi escrito a quatro mãos com outra blogger. Um livro que conta uma paixão entre amigos. Tenho o livro impresso em casa. Não ganhou nenhum prémio mas foi a primeira vez que escrevi um romance com estrutura de um romance. Foi uma boa experiência também.

Com a experiência e a perda da ingenuidade, surgiram novos interesses e várias possibilidades. Anular o sonho de publicar um livro seria mais fácil do que encontrar uma agulha num palheiro. Quanto mais lia, mais qualidades vias nos outros. Comecei a comparar-me, dar um peso maior às criticas negativas e a seguir menos os meus desejos.

A paixão pela escrita sempre acompanhou a minha vida. Sempre me interessou o processo criativo, levar as histórias para o papel. Participei em workshops de escrita criativa, fiz cursos online e li dezenas de livros sobre o assunto. Viria a descobrir que só no exercício da escrita se descobre o talento ou a capacidade de escrever. Mas existem chamamentos. O meu chamamento foi após a leitura de um livro que me impulsionou a regressar ao meu sonho de escritora. O livro chama-se Cartas a Um Jovem Poeta.




O livro arrebatou-me de tal forma que a semente renasceu. Reguei como pude e criei defesas, muralhas no coração, preparada para o bom e para o mau.

Em 2018 publiquei o meu primeiro eBook, O Grande Livro das Listas Literárias. Foi um eBook feito com muito carinho, com uma boa seleção de livros. Sempre fui fascinada por listas literárias. Entreguei as melhores recomendações neste eBook.

Após o medo passar, em 2022, e contornar a síndrome do impostor, decidi publicar o meu primeiro conto. Escolhi a plataforma no Youtube para disponibilizar o áudio com o texto narrado por mim. Esta ideia teve um excelente feedback e incentivou-me imenso para apostar na autopublicação do eBook. Foram tão generosos comigo que era impossível passar pela experiência sem transformação.

O conto "O Dia em que Deixei de Falar com a Minha Avó" passou para o papel e para eBook. Escolhi o site Kobo e consegui imprimir alguns exemplares no site da Amazon. O lançamento correu muito bem e fui invadida com mensagens e publicações nas redes sociais. Foi uma emoção tão grande ver a minha história tocar tantos corações.

Dois anos depois, escrevi e publiquei o meu primeiro livro em papel com edição de autor. "Esta Noite Branca" é o meu primeiro romance em papel. Analisei várias formas, escolhi a forma mais adequada para mim. Este romance vem de uma experiência pessoal que arranquei da alma e passei para o papel.

Contratei profissionais competentes para me ajudarem no processo. Edição, revisão, paginação, design e gráfica. O investimento foi feito do meu bolso, assim como a criação do site, da loja online e das vendas.

Valeu a pena. Quando vi a minha história num livro foi uma sensação tão boa e ao mesmo tempo tão assustadora. O peso da responsabilidade e ansiedade para receber os comentários dos primeiros leitores. Felizmente correu tudo bem. As pessoas gostaram, o livro chegou a muitas casas e continuo a receber pedidos.

Vim de um lugar pacato com poucas oportunidades. Estive quase para desistir do meu sonho, mas não desisti. Vou continuar a fazer o possível para dedicar-me a este sonho. Quero incentivar-te a seguires o teu sonho de escrever e publicar. Não te deixes levar pelas dúvidas. Não percas anos em que podes estar a aprender na prática, ganhar experiência e encontrares a tua voz narrativa. Escreve.




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Cláudia Benedy

É autora de romances. Viciada em bibliotecas e livrarias. Nasceu em 1985, em Vila Franca de Xira. Vive em Alenquer, mãe de quatro filhos. 

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